20.7.11

As telas de Josefa de Óbidos do convento de Santo António da Lourinhã


Carolina Miguel e Eloísa Gomes

Josefa de Ayala Figueira, mais conhecida por Josefa de Óbidos, foi das poucas pintoras femininas do século XVII e a mais célebre artista nacional dessa época. Nasceu em Sevilha (Espanha) em Fevereiro de 1630 e morreu em Óbidos a 22 de Julho de 1684. Era filha de Baltazar Gomes Figueira, um pintor português, e de D. Catarina de Ayala Camacho Cabrera Romero, que era espanhola. Foi apadrinhada por um célebre pintor sevilhano, Francisco de Herrera, el Viejo. Tinha um irmão, Barnabé de Ayala, que também foi pintor.
Veio para Portugal com apenas quatro anos e desde cedo mostrou que tinha uma vocação para a pintura e também para a gravura em metal. Depois de uma breve passagem por Óbidos, em 1644, pelo menos, Josefa já estava instalada em Coimbra, no mosteiro agostinho de Sant’Ana, recebendo ensinamentos religiosos, e junto de seu pai, os primeiros rudimentos artísticos.
As primeiras obras de Josefa, executadas em Coimbra, foram as gravuras de Santa Catarina e de São José, quando tinha apenas quinze ou dezasseis anos de idade. Estas pinturas revelam já uma mão de grande destreza. No entanto, a pintora não seguiu a vida religiosa e regressou a Óbidos, para junto da sua família, que vivia na Quinta da Capeleira. Aí pintou uma gravura da Sabedoria para os novos Estatutos da Universidade de Coimbra, em 1653, com 19 anos, seguida de muitas outras.
Josefa de Óbidos pintou retratos, naturezas-mortas, retábulos, ou seja, diversos tipos de pinturas. Nos seus quadros encontra-se a técnica miniaturista, hábil de pincel e boa definidora de contrastes. Foi especialista na pintura de flores, frutas e objectos inanimados. A influência exercida pelo barroco tornaram-na uma artista com interesses diversificados, tendo-se dedicado, além da pintura, à estampa, à gravura, à modelagem do barro, ao desenho de figurinos, de tecidos, de acessórios vários e de arranjos florais.
Trabalhou como pintora para diversos conventos e igrejas, chegou até a pintar membros da família real, como a esposa de D. Pedro II e a sua filha, a princesa Isabel. A maior parte da sua vida decorreu em Óbidos, terra natal de seu pai, que beneficiava à época de uma verdadeira “corte de aldeia”, constituída por uma nobreza abastada e com um ambiente cultural propício ao desenvolvimento artístico.
Quando morreu, tinha uma vasta obra espalhada pelo país e pelo estrangeiro. Hoje, os seus quadros encontram-se em museus, conventos, igrejas e casas de particulares. Na nossa região são de destacar o Retrato do Beneficiado Faustino das Neves da Misericórdia de Óbidos (c. 1670, Museu de Óbidos), o retábulo do Altar de Santa Catarina na igreja de Santa Maria de Óbidos (1661), o Calvário da Santa Casa da Misericórdia de Peniche (1679) e as duas telas Santa Paula e Santa Eustáquia do convento de Santo António da Lourinhã (c. de 1670).





Santa Paula


Santa Eustáquia


As duas belas telas Santa Paula e Santa Eustáquia foram pintadas por Josefa de Óbidos, cerca de 1670. Estiveram na sacristia do destruído mosteiro jeronimita de Vale Benfeito (próximo da Amoreira de Óbidos) e encontram-se actualmente no convento de Santo António da Lourinhã.
Santa Paula nasceu em Itália, a 5 de Maio de 347 e morreu em Belém, em 404. Foi casada com o senador Toxócio, com quem teve cinco filhos, um deles foi Santa Eustáquia (369-419). Santa Paula ficou viúva em 379 e, com a sua filha, foi para a Terra Santa, onde se encontrava S. Jerónimo, de quem ambas eram amigas e discípulas espirituais. Com os seus conhecimentos de latim, hebreu e grego, ajudaram S. Jerónimo na tradução da Bíblia do hebraico e do grego para latim – a denominada Vulgata. Na Terra Santa a herança de família permitiu a construção de igrejas, de um hospital e de um mosteiro, do qual Santa Paula foi a primeira abadessa. Encontram-se sepultadas na Basílica da Natividade em Belém.
Os quadros de Josefa de Óbidos são do estilo barroco, estilo artístico aparecido em Itália no século XVII, tendo-se expandido principalmente pelos outros países católicos da Europa e suas colónias da América. Considerado como o estilo correspondente ao absolutismo e à contra-reforma, distingue-se pelo esplendor exuberante.
No Barroco as formas clássicas do Renascimento foram substituídas pelo movimento, pelo dramatismo e pela exuberância. As principais características da pintura do Barroco são o contraste entre a luz e a sombra, os efeitos ilusionistas, o predomínio da figura humana, representada de forma realista e a procura de efeitos decorativos e visuais com a utilização de linhas ondulantes. No Barroco foi também abandonada a composição em pirâmide do Renascimento, e adoptada a composição na diagonal, que imprime maior dinamismo às personagens.
Estas duas telas foram restauradas, pelo Instituto José de Figueiredo, para figurarem na “III Exposição sobre Josefa de Óbidos – Pintura Barroca -, na Galeria de Pintura do rei D. Luís, no Palácio da Ajuda, em 1991, que foi coordenada pelo Professor Vitor Serrão. A excelência de Josefa de Óbidos na arte do retrato, é testemunhada pela descrição que é feita no catálogo da exposição: «Obras de bom desenho, são particularmente interessantes pela “disciplina, sobriedade e beleza do estilo”, como notou Reis-Santos, nas qualidades expressionistas dos rostos e na palpitação naturalista dos brancos luminosos.»



Alunas do 8.º C, da EB de Ribamar,
Disciplina de História e Área de Projecto

(artigo publicado no jornal do Agrupamento de Escolas D. Lourenço Vicente, Junho 2011)

Bibliografia:
BATALHA, Padre Joaquim, Convento de Santo António de Lourinhã - Passado, Presente e Futuro, Lourinhã, Câmara Municipal de Lourinhã, 2003.
DINIZ, Maria Emília, TAVARES, Adérito, CALDEIRA, Arlindo M., História Oito - Parte 1, 1ª ed., Lisboa, Lisboa Editora.
SERRÃO, Vítor, História de Arte em Portugal - o Barroco, Lisboa, Ed. Presença, 2003.