30.11.06

S. LOURENÇO DOS FRANCOS

Hoje estivemos a visitar uma das igrejas mais antigas do concelho da Lourinhã.
S. Lourenço dos Francos é a igreja matriz da freguesia de Miragaia, povoação situada a 4 Kms da sede de concelho, numa encosta em frente do vale por onde corre o rio Grande (este passa depois pela vila e desagua na praia da Areia Branca). Foi este vale que esteve completamente alagado com as inundações do fim-de-semana passado.

A tarde estava soalheira, proporcionando-nos um magnífico passeio. O grupo de alunos (Inês, Rui e Vera), responsável por esta saída, desempenhou bem o seu papel. Foram eles que fizeram os contactos para termos acesso à chave da igreja, assim como nos contaram a respectiva história.

Mais tarde iremos publicar os textos a propósito, porque primeiro estão os de S. Bartolomeu dos Galegos. Mas aqui ficam duas imagens para aguçar o “apetite”.


Azulejos "padrão de camélia"
Interior do arco do Baptistério

26.11.06

ITINERÁRIOS DE DOMINGO

Depois de bebermos uma bica na Nau dos Corvos (Cabo Carvoeiro), eu e o meu cara-metade deixámos o concelho de Peniche e entrámos no da Lourinhã, pelo Paço. Rodeando o planalto das Cesaredas, percorremos as freguesias que nós (Clube de História Local) temos estado a estudar e a visitar.
Quase sem darmos por isso, entrámos no concelho do Bombarral e de repente, abre-se ante nós mais uma paisagem magnífica. E lá descobrimos a entrada de algumas grutas que foram ocupadas pelo homem na Pré-História e que são abundantes na região. Acabámos no museu do Bombarral.








Qual o itinerário percorrido? Quais as grutas de onde foram tiradas estas fotos?

O tema das grutas vem a propósito porque durante as investigações que antecedem as visitas, alguns alunos do clube leram que na Feteira (freguesia de S. Bartolomeu dos Galegos) há algumas grutas de grande interesse arqueológico (uma delas, necrópole neolítica, foi explorada em 1981 pelo arqueólogo João Zilhão). A partir daí, todas as vezes que saímos não falam de outra coisa, querem ir visitar as grutas. Entretanto, esta semana fui ao museu da Lourinhã e falei com uma das pessoas responsáveis pela área da museologia. Para além das indicações que deu, fez-nos várias propostas de colaboração para o 2º período. Quando o programa estiver assente iremos divulgá-lo.

Pois é ... um professor não consegue desligar, mesmo depois de ter cumprido o horário que seria suposto cumprir.
Maria dos Anjos Luís

25.11.06

A ARTE DA CANTARIA
no Reguengo Grande













As povoações que temos vindo a estudar (Moledo, Reguengo Grande e S. Bartolomeu dos Galegos) situam-se no ou em redor do planalto das Cesaredas, uma formação calcária que tem fornecido a matéria - prima para uma das indústrias mais antigas da região – as oficinas de canteiros. Foram eles que, desde a Idade Média, construíram muitos dos monumentos do concelho ou dos concelhos limítrofes (veja-se o caso da Igreja gótica de Santa Maria do Castelo da Lourinhã) e mais recentemente, as cantarias das portas e janelas de muitos edifícios.

Isto vem a propósito de uma carta*, datada de 4 de Maio de 1928, de um canteiro do Reguengo Grande, senhor Francisco Luiz Corredoura (filho), dirigida ao pároco de A dos Cunhados (Torres Vedras) para que este lhe pagasse as despesas da feitura do orçamento de fornecimento de cantarias (estava-se a iniciar nessa data as obras de ampliação da igreja), já que o trabalho não lhe tinha sido encomendado.

Este documento é interessante (para se ler basta clicar sobre a imagem para ampliar) porque testemunha a existência desta actividade tradicional na região, como também nos dá informações interessantes sobre os percursos de antigamente. Reparem: este senhor para ir a A dos Cunhados, em 1928, apanhava o comboio para Torres Vedras e depois a diligência, quando, hoje, a distância por estrada é muito mais curta (reparem também no preço dos transportes em relação ao salário de um dia de trabalho).

Para terminar, gostaria de levantar duas questões:

1. Será que há ainda algum descendente do senhor Francisco Luiz Corredoura ligado a esta indústria?
2. Em que estação é que os habitantes do Reguengo Grande apanhavam ou apanham o comboio da linha do Oeste?

Maria dos Anjos Luís

* Encontrei esta carta no Arquivo Paroquial de A dos Cunhados, onde me encontro, nos meus tempos livres e férias, a inventariar e a acondicionar a documentação antiga, com vista à organização do respectivo Arquivo Histórico. Tenho contado com o precioso auxílio da D. Domitília Nunes, que durante muitos anos trabalhou no cartório paroquial.

24.11.06

REGUENGO GRANDE
Andreia Jorge, Daisy Pereira e David Serra

A actual freguesia de Reguengo Grande pertenceu inicialmente à de Santa Maria de Óbidos. Depois, em finais do século XIV, integrou a de S. Bartolomeu dos Galegos, até que em 1525 tornou-se paróquia, sob invocação de S. Domingos. A 6 de Novembro de 1836, passou a fazer parte do concelho da Lourinhã, à semelhança das freguesias de Moledo e S. Bartolomeu dos Galegos.

A fixação humana nesta região ascende a épocas imemoriais, contudo o seu nome não oferece dúvidas. O topónimo da freguesia é constituído por dois elementos, sendo o primeiro derivado do português arcaico “Regalengo” ou “Reguengo”, que designa as terras pertencentes ao Rei e arrendadas a agricultores em troca de uma renda.
Assim, a freguesia do Reguengo começou por ser uma região sob a alçada directa da coroa. O seu topónimo acabou por perpetuar essa época. O segundo elemento toponímico “Grande” é qualificado como sendo de “tamanho maior que o vulgar”.

Assim, o nome desta terra teve origem numa enorme propriedade pertencente ao Rei, o denominado reguengo. Tanto a aldeia do Reguengo Grande como a sua vizinha a do Reguengo Pequeno começaram com a carta de D. João I, que foi dada no dia 3 de Fevereiro de 1433 em Coimbra.
Foi a partir desse dia, e em virtude dos privilégios nela existentes, que as populações se fixaram nos reguengos. Vejamos alguns excertos da carta:

«D. João por graça de Deus Rey de Portugal e do Algarve a todos os Corregedores, Juizes, e Justiças Oficiais, e pessoas e outros quaisquer que esta houverem de ver por qualquer guiza que seja, que esta carta for mostrada (...) querendo nós fazer graça e mercê aos que os nossos reguengos e herdades lavrarem, temos por bem e mandamos que todos aqueles que lavrarem corporalmente nas nossas quintas e casais encabeçados e outras herdades, não lavrarem senão as nossas, enquanto assim em elas morarem, sejam escusados de pagarem quaisquer peitas e fintas e talhas e emprestidos, nem outros nenhuns encargos dos concelhos onde assim morarem (...).»*

*CIPRIANO, Rui Marques, Vamos Falar da Lourinhã, Lourinhã, Câmara Municipal da Lourinhã, [2001], pp. 251-252.

23.11.06

A PROPÓSITO DOS PRIVILÉGIOS DOS HABITANTES DE MOLEDO
Magda Rodrigues e Filipe Alfaiate

Professora Margarida, lemos o seu comentário que pedia para esclarecermos em que consistiam os impostos que os habitantes de Moledo estavam isentos. Aqui está a resposta:

Fintas e talhas – eram contribuições municipais lançadas quando as rendas do concelho não bastavam para suprir determinadas despesas que, por vezes, a colectividade se via obrigada a fazer.
Eram assim contributos extraordinários e consistiam numa quantia imposta a cada contribuinte, mais o menos elevada segundo a fortuna de cada um e consoante era maior ou menor o valor da soma necessária.
As fintas eram lançadas principalmente para obter fundos destinados a obras dentro do próprio concelho (reparações de muros, pontes, calçadas e edifícios públicos).

Peitas – quantias que cada contribuinte cabia pagar na solução de determinados impostos, como, por exemplo, pedidos e fintas, ou multas aplicadas ao fisco.

Jugadas – era um imposto lançado pelo rei sobre os lavradores, por cada jugo de bois que usavam para lavrar a terra. A quantia a pagar era um moio de cereais (trigo ou milho) por cada junta/par de bois.

16.11.06

DEPOIS DE MOLEDO
Cristiana Trindade

Túmulo de Inês de Castro - Mosteiro de Alcobaça


Apesar de ter vivido, segundo a lenda, longas temporadas em Moledo, D. Inês de Castro residia, com os seus filhos e o príncipe, no paço que a rainha Santa mandara edificar junto ao convento de Santa Clara, na margem esquerda do rio Mondego, em Coimbra.
D. Fernando, filho de D. Constança e de D. Pedro, vivia em Lisboa, onde era educado como príncipe, pois iria ser rei de Portugal quando D. Afonso IV e D. Pedro morressem.
D. Afonso IV receava que D. Inês viesse a ser rainha (não nos esqueçamos que D. Pedro era viúvo de D. Constança). Ele sabia que por maldade o seu neto poderia morrer e um dos filhos de D. Inês de Castro poderia vir a ser rei de Portugal.
E foi no dia 7 de Janeiro de 1355 que tudo aconteceu. D. Pedro saiu de casa para iniciar a caça de montaria e despediu-se dos filhos e da amada.

De seguida D. Afonso IV foi até Montemor-o-Velho com a sua corte e ali reuniu com os conselheiros de estado, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho.
D. Afonso estava indeciso, se havia de fazer tal monstruosidade mas lá o convenceram.
Foi ao cair da noite que o rei e a sua corte chegaram a casa de D. Inês.
Não houve gemidos, nem lágrimas das crianças que impedissem a morte de D. Inês de Castro, que morreu degolada pelo machado do algoz.

(Fotos: http://195.20.14.201/0/05/76/09/c-ronaldo/41-alcobaca2.jpg e http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e2/Ines_de_castro.jpg/300px-Ines_de_castro.jpg )

11.11.06

A Igreja Matriz de Moledo

Cristiana Trindade

A igreja matriz de Moledo, cujo orago é o Espírito Santo, é uma construção renascentista, de finais do século XVI ou princípios do século XVII.

É uma igreja de uma só nave, com alpendre na porta principal. A torre sineira, no lado direito da fachada, tem pintada a data de 1629, talvez a do término da igreja.

No interior da igreja é de salientar o tecto de caixotões em madeira, cobertos de pinturas de arabesco, de onde sobressai, no painel central, a imagem do Espírito Santo.
No corredor central existe uma lápide sepulcral onde ainda se consegue ver a data de 1681.
As paredes laterais da nave e por debaixo do coro estão decoradas com azulejos policromados, tipo tapete, do século XVII. Alguns foram recentemente substituídos. Vejam a diferente qualidade de uns e de outros!

Por volta dos anos quarenta destruíram a arquitectura do monumento quando substituíram a antiga capela-mor por uma construção moderna.











8.11.06

MOLEDO II

Cristiana Trindade


Hoje, o Paço Real do Moledo é tão só um terreno de cultura, restando apenas os muros que delimitavam a propriedade e um poço com vestígios de azulejos policromados, provavelmente situado nos seus antigos jardins.

Mas porquê este sítio para um palácio?

Pensa-se que antes de ser um palácio, teve outras funções. Teria sido um templo fenício ou cartaginês, pois foi encontrado junto das suas ruínas uma pedra (base de uma estátua?) com inscrições fenícias. Estes povos frequentavam a nossa costa para fins comerciais, fundando colónias e feitorias. Teriam eles chegado a Moledo através da ribeira de S. Domingos que desagua em Peniche? (esta ribeira corre mesmo junto ao terreno do paço).

De templo fenício, ter-se-á transformado em templo romano e, durante a ocupação árabe, em palácio de caça, tendo-se encontrado vestígios da arquitectura árabe, nas ruínas do antigo palácio, assim como as armas de Portugal, usadas pelo rei D. Afonso Henriques. Enquanto palácio real, aí permaneceu longas temporadas Inês de Castro, entre 1346 e 1352, como já referimos num post anterior. E, foi à sombra dele que a povoação cresceu.

Em meados do século XVI o palácio foi abandonado. Sabe-se que os habitantes do lugar foram, ao longo dos tempos, arrancando pedras para outras construções e muros, mas nos finais do século XIX ainda se podiam observar algumas ruínas. Entretanto, foi tudo arrasado e as pedras que restavam foram utilizadas na construção de uma estrada.
Nada foi preservado.


Bibliografia base destes trabalhos:
CIPRIANO, Rui Marques, Vamos Falar da Lourinhã, Lourinhã, Câmara Municipal da Lourinhã, [2001].

5.11.06

MOLEDO - I

Magda Rodrigues e Filipe Alfaiate


A palavra Moledo deriva do latim “moles”, que significa grande massa de pedra. De facto, a povoação fica situada no planalto das Cesaredas*1, um afloramento calcário com doze quilómetros de comprimento por oito de largura.

A freguesia de Moledo foi fundada em 1594, tendo pertencido até esta data à freguesia de Santa Maria de Óbidos. Manteve-se no concelho de Óbidos até 6 de Novembro de 1836, data em que passou a pertencer ao concelho da Lourinhã, depois de uma grande reforma administrativa (repare-se no reflexo da lenda de Pedro e Inês no brasão desta freguesia).

O primeiro documento escrito conhecido relativo ao Moledo é uma carta de privilégios dada pelo rei D. Fernando, filho de D. Pedro I, a 12 de Outubro de 1378. Por esta carta os seus moradores e todos aqueles que viessem a sê-lo estavam isentos do pagamento de diversos impostos (jugadas, peitas, fintas e talhas) às vilas de Óbidos, Atouguia e Lourinhã, e podiam livremente negociar os seus produtos nestas vilas, assim como os moradores delas podiam vir a Moledo negociar os seus. Também estavam isentos do serviço de hoste e fossado*2.
Esta carta de privilégios foi muito importante porque atraiu muita população a Moledo.

Sobre a importância do paço no desenvolvimento desta freguesia falaremos no próximo post.


*1 O termo Cesaredas terá tido origem, segundo a tradição popular, no facto de ali terem estado acampadas as tropas romanas comandadas por Júlio César.
*2 O serviço de Hoste era o serviço militar a que todos estavam obrigados, quando havia uma empresa bélica de alguma importância (cerco de uma cidade ou castelo e lide campal). Fossado era também serviço militar obrigatório, mas em operações militares de carácter ofensivo, tendo tido origem nas lutas da reconquista (normalmente no fim da Primavera e, durante algumas semanas, faziam-se incursões nos territórios ocupados pelos mouros). Foi, mais tarde, transformado num imposto, a fossadeira.

2.11.06

OS AMORES DE PEDRO E INÊS
em Moledo, Lourinhã – II

Cristiana Trindade
Como já referimos no post anterior, D. Pedro vinha passar longas temporadas ao paço da Serra d´El-Rei e aproveitava para se encontrar, longe dos olhares da corte, com Inês de Castro num outro paço real, o de Moledo.

Achámos que seria interessante reconstituir o percurso provável seguido por D. Pedro entre as duas localidades, que parece ter sido aquele que assinalámos no mapa. Assim, diz a tradição popular, que D. Pedro saía da Serra d´El-Rei a galope e quando passava pela localidade do Paço, gritava “aqui a passo”, por ser uma zona de muitas areias e, deste modo, “Passo” passou a designar esta pequena povoação da freguesia de S. Bartolomeu dos Galegos (ainda há 150 anos o lugar do Paço escrevia-se com a grafia antiga - Passo).

Mais à frente, D. Pedro parava num tanque para dar de beber ao cavalo e para ele próprio se refrescar, que era abastecido por uma nascente situada no terreno de um antigo Convento de Agostinhos, transformado numa quinta no século XVI. Esta quinta denomina-se Quinta da Fonte Real em memória deste episódio e encontra-se hoje dentro do perímetro urbano de S. Bartolomeu dos Galegos.

Finalmente, D. Pedro tomava a estrada de Moledo para ir ter com a sua amada, depois de ter contornado o planalto das Cesaredas, de mais difícil acesso pelo lado norte e noroeste.