30.12.06

O MOSTEIRO DE S. LOURENÇO DOS FRANCOS

Inês Bonifácio e Vera Santos

Frei João de Santo Estevão, frade franciscano da Província dos Algarves, natural da povoação vizinha da Joaria, na sua crónica sobre o Mosteiro de S. Lourenço*1, escrita em 1685, diz que este foi fundado no ano de 890. A sua fundação dever-se-ia a Frei Ancirado, frade da Ordem de Santo Agostinho, natural da Germânia e que viera à Península Ibérica para incentivar os cristãos a construírem conventos, para que os seus monges se dedicassem à evangelização. Entre os vários conventos que teria fundado, o deste concelho situar-se-ia no sopé do monte onde assentava a cidade de Monardo dos Francos*2 e junto a uma ribeira que corre em direcção à vila da Lourinhã, sob invocação do Mártir S. Lourenço e denominado Mosteiro de S. Lourenço dos Francos por estar junto da referida cidade.
Entre os anos da fundação até 1.139, o mosteiro teria sido provavelmente saqueado e incendiado pelos invasores e ocupantes árabes, encontrando-se em ruínas aquando da fundação da nacionalidade. Nesse ano de 1139, Frei Guilherme, visitador da Ordem, vendo o estado de decadência do Mosteiro, pediu a D. Afonso Henriques, donativos para reedificar o Mosteiro, pedido que foi concedido nesse mesmo ano.
De acordo com a crónica de Frei António da Purificação, cronista da Ordem de Santo Agostinho, o Mosteiro de S. Lourenço existiu até meados do século XVI, tendo acabado devido à grande pobreza em que os frades viviam e os pouco haveres que possuíam foram transferidos para os Conventos da Graça de Torres Vedras e de Penafirme. O convento foi arrasado tendo ficado apenas de pé a igreja, que servirá de matriz à freguesia de S. Lourenço dos Francos, como nos referimos no texto anterior.


Igreja de S. Lourenco elevada a paróquia

No ano da fundação da nova freguesia, 1555, a confraria de S. Lourenço dos Francos suportou os custos do restauro e ampliação da igreja do antigo mosteiro.
No ano de 1681 a igreja encontrava-se quase em ruína total devido aos sérios estragos provocado pelas intempéries em todo o edifício.
O pároco de então Manuel Henriques, conseguiu uma série de donativos e fez uma restauração completa da igreja, foram construídos os muros do adro da igreja, as casas de arrecadação e catequese junto à igreja. O interior da igreja foi também restaurado e melhorado, tendo-se colocado os silhares de azulejos da nave e do baptistério.
Nos dias de festa, todas a populações se deslocavam à igreja da freguesia, que por esse motivo se tornava pequena. Para tentar resolver o problema, no ano de 1737, foi construída a capela-mor e nesta o belo retábulo em talha dourada com o seu invulgar sacrário em forma de esfera. Nesse ano foi também construída a torre e alpendre que está em frente à porta principal da igreja e, nas esquinas da parede exterior da capela- mor, foram colocadas duas pedras de calcário contendo inscrições funerárias romanas.
Até hoje têm-se realizado diversas obras de conservação, como as que estão a decorrer neste momento.

*1 Os cronistas referidos neste texto, escreveram no século XVII, portanto já com grande distanciamento em relação aos acontecimentos narrados. Para além disso, são fontes de membros da Igreja que tinham todo o interesse em mostrar a antiguidade dos respectivos institutos, pelo que devem ser lidas com algum cuidado. Estas informações devem ser comparadas com as dos documentos de arquivo.
*2 Sobre a mítica cidade de Monardo dos Francos falaremos num próximo post. Queremos no entanto desde já adiantar que o topónimo Francos está relacionado com o facto de membros desta nacionalidade (cruzados) se terem estabelecido na região na sequência da ajuda prestada a D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa aos mouros em 1147. A um deles – D. Jordão e como prémio pelos serviços prestados, o nosso rei doou o senhorio da Lourinhã.

3 comentários:

mar disse...

Este blogue está cada vez melhor.
Maria dos Anjos tens que me ensinar a colocar os slides. Está um espectáculo, Parabéns!

Anónimo disse...

Com este trabalho, acabámos por publicar todos os textos redigidos a propósito das visitas que fizémos no 1º período. Todos os 14 elementos do clube tiveram oportunidade de participar e ver os seus trabalhos publicados. O Rui Ferreira ainda está a completar a sua investigação sobre a cidade de Monardo dos Francos, cuja localização é incerta. Agora, no 2º período vamos iniciar uma colaboração com o Museu da Lourinhã na área da arqueologia.

Anónimo disse...

bom trabalho priminha!!!!