25.11.06

A ARTE DA CANTARIA
no Reguengo Grande













As povoações que temos vindo a estudar (Moledo, Reguengo Grande e S. Bartolomeu dos Galegos) situam-se no ou em redor do planalto das Cesaredas, uma formação calcária que tem fornecido a matéria - prima para uma das indústrias mais antigas da região – as oficinas de canteiros. Foram eles que, desde a Idade Média, construíram muitos dos monumentos do concelho ou dos concelhos limítrofes (veja-se o caso da Igreja gótica de Santa Maria do Castelo da Lourinhã) e mais recentemente, as cantarias das portas e janelas de muitos edifícios.

Isto vem a propósito de uma carta*, datada de 4 de Maio de 1928, de um canteiro do Reguengo Grande, senhor Francisco Luiz Corredoura (filho), dirigida ao pároco de A dos Cunhados (Torres Vedras) para que este lhe pagasse as despesas da feitura do orçamento de fornecimento de cantarias (estava-se a iniciar nessa data as obras de ampliação da igreja), já que o trabalho não lhe tinha sido encomendado.

Este documento é interessante (para se ler basta clicar sobre a imagem para ampliar) porque testemunha a existência desta actividade tradicional na região, como também nos dá informações interessantes sobre os percursos de antigamente. Reparem: este senhor para ir a A dos Cunhados, em 1928, apanhava o comboio para Torres Vedras e depois a diligência, quando, hoje, a distância por estrada é muito mais curta (reparem também no preço dos transportes em relação ao salário de um dia de trabalho).

Para terminar, gostaria de levantar duas questões:

1. Será que há ainda algum descendente do senhor Francisco Luiz Corredoura ligado a esta indústria?
2. Em que estação é que os habitantes do Reguengo Grande apanhavam ou apanham o comboio da linha do Oeste?

Maria dos Anjos Luís

* Encontrei esta carta no Arquivo Paroquial de A dos Cunhados, onde me encontro, nos meus tempos livres e férias, a inventariar e a acondicionar a documentação antiga, com vista à organização do respectivo Arquivo Histórico. Tenho contado com o precioso auxílio da D. Domitília Nunes, que durante muitos anos trabalhou no cartório paroquial.

5 comentários:

mada disse...

Já há algum tempo que eu não passava por aqui mas como seria de esperar quando se volta cá encontramso sempre coisas bem interessantes para ler. Vejo que o grupo deste ano também é entusiasta pelo levantamento das histórias da sua terra! E achei curiosa a interrogação sobre se a descendência do Sr. Francisco Luiz Corredoura se mantém no mesmo ramo industrial. Como é que poderão fazer a pesquisa disso? Será que existem registos na região que vos permita fazer o estudo dessa questão? Fiquei curiosa e espero que dentro de algum tempo apareça aqui alguma pista. Resultante do trabalho de pesquisa de vocês ou, porque não, de alguém da terra que vos leia e vos queira dar umas dicas.
Vou ficar à espreita, mas para já parabéns pelo belo trabalho.

Anónimo disse...

Mada:
Enviámos o endereço do nosso blogue para as juntas de freguesia que têm mail, que é o caso da do Reguengo e também temos tido a colaboração dos párocos nas saídas que temos feito. A ideia era haver intercâmbio de informações entre nós e as pessoas que nos lêem. É que para além de nós ficarmos mais informados sobre a história local, acabamos também por divulgar a riqueza patrimonial das diferentes localidades. Uma das coisas que temos reparado nas nossas saídas é que hoje nota-se bem os resultados do esforço de preservação das instituições locais responsáveis pelo património. Da nossa parte, a educação para a sua valorização, defesa e preservação é o melhor contributo para que o esforço actual tenha continuidade no futuro.

Anónimo disse...

Saudações para toda a equipa do Clube e muito especialmente para a Drª. Maria dos Anjos.
Posso dizer que os habitantes do Reguengo Grande quando necessitavam de viajar tomavam o combóio nas estações do Bombarral ou de São Mamede.
Aproveito a oportunidade para sugerir uma visita à Estação do Outeiro da Cabeça, que era oficialmente a estação que servia a Lourinhã e que então se denominava da "Lourinhã-Outeiro".
A gare desta estação está decorada com paineis de azulejos representando monumentos e paisagens do concelho da Lourinhã.
Cumprimentos do Rui Cipriano

Anónimo disse...

Sr. Rui:
Agradeço as suas informações e sugestões.
Já agora aproveito a oportunidade para lhe perguntar se sabe alguma coisa sobre a descoberta da vila romana de Monardo dos Francos, após escavações recentes (foi um aluno da escola que me contou e que vive lá perto).
Também gostaria de o informar que por iniciativa da Melissa, um dos grupos do clube escreveu uma carta ao jornal Alvorada a pedir para divulgar os respectivos trabalhos. Vai ser enviada em breve.
Com os melhores cumprimentos.

celia costa disse...

Bom dia,

Moro em Bruxelas, e dei com o seu site por acaso.

Sou descendente de Francisco Luiz Corredoura, que era meu tio-avô. A meu conhecimento, ninguém da família continua actualmente com a actividade da pedra. O último foi o meu avô paterno, Augusto Pimentel da Silva, cunhado de Francisco Luiz Corredoura, e que exerceu a actividade de canteiro nas Cesaredas, onde de estabeleceu. Foi aliás este meu avô que escreveu a carta que pôs em linha, já que quando a mostrei ao meu pai, ele ficou extremamente comovido porque reconheceu a letra do próprio pai. A explicação é simples, aparentemente o meu tio-avô não era muito letrado, e era o meu avô quem lhe tratava da correspondência.

O meu pai contou-me também que o meu bisavô Corredoura (pai de Francisco Luiz Corredoura) era originário da zona de Pero Pinheiro, e que se veio estabelecer no Reguengo Grande. O meu pai crê que uma parte muito afastada da família, residente nessa zona, ainda continua na indústria da pedra.

Espero ter contribuído para a sua pesquisa.

Célia Costa e Silva