Vila de Óbidos
Tudo começou quando os arqueólogos tentaram encontrar uma cidade designada por Eburobrittium, referida pelo autor romano Plínio-o-Velho do séc. I, que escreveu sobre as cidades romanas na costa atlântica da Península Ibérica.
Essa cidade estaria localizada algures entre Collipo (Leiria) e Olisipo (Lisboa). Todavia, nos seus textos, o autor não referiu qual a sua localização exacta, o que levou a que diversos autores tenham procurado estabelecer a sua localização.
Então, em 1994, quando estavam a decorrer os trabalhos de construção do IP6 e do IC1 foram descobertos alguns vestígios arqueológicos da época romana que pelo interesse suscitado, conduziram desde logo a trabalhos de escavação do local. Rapidamente, os arqueólogos, sob a direcção de José Beleza Moreira, chegaram à conclusão que, realmente, estavam perante ruínas de uma cidade romana, comparável a Conímbriga. Parte dos principais edifícios encontram-se cobertos pela A8.
Pensa-se que Eburobrittium se tenha desenvolvido a partir do século I a.C., e que sobreviveu até à segunda metade do século V d.C. Foi, provavelmente, uma cidade aberta, sem capacidade de defesa, o que terá levado ao seu abandono. Para além de preocupações de ordem defensiva, o recuo das águas da Lagoa, terão motivado a transferência da povoação para o local onde hoje se encontra a vila de Óbidos. É possível que alguns dos edifícios da actual vila possam integrar materiais da antiga cidade romana.
O projecto de construção de uma cidade romana envolvia diversas pessoas. Arquitectos, topógrafos, engenheiros militares e construtores especializados trabalhavam durante vários meses para projectar, desenhar e planificar a cidade.
Os materiais utilizados na construção eram: pedra, argila (para fabricar telhas e tijolos nas fábricas), argamassa (utilizada para ligar os tijolos e as pedras e no fabrico do cimento) e madeira (utilizada nos andaimes e no travejamento dos telhados).
Iniciavam-se então a construção das duas áreas públicas mais importantes da cidade: o fórum e o mercado.
1. zona comercial, 2 - área administrativa, 3 - pátio.
O fórum era o principal centro da cidade. Nele encontravam-se as repartições públicas, como o Senado, a Basílica (tribunal) e os templos, bem como o mercado e as lojas comerciais. Foi o primeiro edifício a ser identificado de Eburobrittium.
As dimensões do Fórum são de 43,20 m de largura por 64,80 m de comprimento, o que leva a crer que terá sido edificado seguindo a regra dos dois terços, definida por Vitrúvio.
O mercado era o local onde os agricultores e comerciantes instalavam as suas tendas. Localizava-se a céu aberto, num pátio interior, rodeado por colunas. No piso superior, arrendavam-se escritórios a homens de negócios, transaccionavam produtos com outros mercados do império.
O templo do fórum está hoje sob a estrada. A basílica situar-se-ia no lado sul onde se detectou duas fiadas de sapatas para suporte de colunas. A rodear as Tabernae (zona comercial) existiria um pórtico, conforme se confirma pela presença de sapatas ao longo das mesmas.
Termas
Outra importante estrutura de Eburobrittium é o edifício termal. Apenas se encontra escavada a zona quente (lacónico, sala das banheiras, sala de descanso), um praefurnium e um corredor de serviço. O lacónico tem uma piscina circular com 3,4 metro de diâmetro, apresentando dois degraus, com 30 cm de largura.
As escavações do local foram financiadas, nas duas primeiras campanhas, através do IPPAR e posteriormente pela Câmara de Óbidos e pela Associação Nacional de Farmácias, que entretanto adquiriu também a quinta onde se encontra a estação arqueológica.
A partir de 2006, as escavações foram suspensas por falta de financiamento. Esperemos que elas possam ser retomadas, pois estamos perante uma herança arqueológica nacional de valor inestimável.
Fontes:
http://historiaaberta.com.sapo.pt/lib/loc006.htm
http://www.portugalromano.com/?p=868
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