25.5.06

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO - III
O Forte de Paimogo

Quando fomos visitar o Forte de Paimogo (18 de Maio) ficámos agradavelmente surpreendidos com as obras de recuperação em curso. Iniciada no princípio deste mês, o prazo de execução da obra é de 240 dias e o seu custo está orçamentado em 119.962,50 Euros. O projecto é financiado pela Câmara Municipal da Lourinhã.
Através de um protocolo, a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais cedeu o imóvel à Câmara por um período de 25 anos. Depois da fase de recuperação da estrutura do forte, está previsto uma redefinição dos espaços para fins culturais (o forte está inserido na rota dos dinossauros), com sala de exposições, galeria e sala de leitura e ainda, uma cafetaria e uma esplanada.
A professora Lurdes Neto sugeriu que falássemos com os operários para lhes perguntar quais os materiais utilizados no restauro e eles responderam que estão a usar os materiais originais - calcário, areia branca, cal hidratada e saibro. Os processos de execução são os tradicionais. E acrescentaram que são uma empresa de Lisboa, que trabalha nas obras do Estado e por isso estão habituados a obras de restauro de edifícios históricos.
O aproveitamento dos monumentos para fins turísticos e culturais são uma boa forma de travar uma inevitável ruína. Desejamos que o projecto de recuperação e requalificação do Forte de Paimogo seja bem sucedido!

A beleza da nossa costa vista a partir dos terraços do forte do rés-do-chão e do 1º andar (lado sul).

SISTEMAS DE VIGILÂNCIA E DEFESA DA COSTA

O Forte de Paimogo
David Serra e Igor Alexandre


O Forte de Nossa Senhora dos Anjos de Paimogo foi construído em 1674, durante o reinado de D. Afonso VI (na regência de D.Pedro), para impedir o desembarque de tropas inimigas na praia, por esta ser de águas calmas e de fácil acesso a terra firme.
Estava integrado na segunda linha defensiva da costa, que ia de Peniche até à barra do Tejo e que foi construída no contexto das guerras da Restauração da Independência contra os espanhóis. Com efeito a maioria das fortificações existentes entre o cabo da Roca e Peniche foram construídas sob o impulso da coroa Portuguesa, após 1640 - os Fortes de Nossa Senhora da Consolação (1641), de Peniche (1641-1645), de Nossa Senhora da Graça da Vitória, no Cabo Carvoeira e de Nossa Senhora da Luz em Peniche de Cima (depois de 1642), de Santa Susana (1650), de S. João Baptista nas Berlengas (1654-1678), de Nossa Senhora da Graça de Porto Novo (1662), de Nossa Senhora da Boa Viagem ou da Natividade da Ericeira (1670), etc.
Estas fortalezas serviam também para defender as populações do litoral dos ataques da pirataria mourisca que assolava frequentemente a nossa costa.
Logo de início este forte tinha seis peças de artilharia, um cabo que o comandava, seis soldados e seis artilheiros. Em 1735 nele viviam 16 soldados e tinha 8 peças de artilharia.
Em 1796 o Forte de Paimogo encontrava-se em estado de abandono. Um relatório feito por o General Engenheiro José Matias de Oliveira Rego dizia que o forte se encontrava degradado, e a artilharia encontrava-se apodrecida.
Em 1804, a guarnição era composta por um Cabo, cinco artilheiros e cinco fuzileiros. Estes eram os homens que estavam no Forte a 20 de Agosto de 1808 aquando do desembarque dos soldados ingleses na praia da Areia Branca (1,5Km a sul do forte) e que combateram, no dia seguinte, na Batalha do Vimeiro.
Com o fim da Guerra Civil (1830-32) entre Liberais e Absolutistas o forte de Paimogo termina a sua missão como fortificação militar marítima. Este abandono deu início à degradação do edifício, que foi classificado de imóvel de interesse público em 1957. Actualmente estão a decorrer obras recuperação.

(Estas fotografias foram tiradas antes das obras de recuperação em curso. É visível o estado arruinado do imóvel)

19.5.06

ARTES DECORATIVAS – IV

AZULEJARIA da Igreja do Convento
de Santo António da Lourinhã
Armanda Prioste, Mariana Aguiar e Sara Ferreira

Painel da Pregação aos Peixes, Capela-mor

Na cidade de Rimini, em Itália, as pessoas mantinham-se indiferentes e até hostis à pregação de António. Ele, deixando a cidade, junto da foz do rio Marecchia, começou a chamar: “Vinde vós, peixes, ouvir a palavra de Deus” e deu-se o milagre, os peixes juntaram-se aos milhares para o ouvir. Curiosas, as pessoas começaram por se aproximar e, depois, maravilhadas e entusiasmadas acolheram a sua palavra.
Encimado por uma cruz com uma flor, este painel é muito interessante porque apresenta Santo António a pregar a peixes que apresentam cabeças monstruosas de cães, de porco, de pato …

Desde o final do século XVII até meados do século VIII a pintura em azulejo fez-se exclusivamente com azul sobre branco: foi a moda do azul e branco. Os estudiosos apontam como causa principal a influência da porcelana chinesa, que tinha sido dada a conhecer pelos portugueses à Europa já desde os princípios do século XVI. Mas é só por volta de 1650 que a moda do azul e branco na azulejaria se impõe. Azul e branco passaram a ser sinal de bom gosto durante cerca de 60 anos.
Nos painéis de azulejo aparecem agora “cenas”, tal qual como nos quadros. É que a pintura dos azulejos passou a ser confiada a mestres pintores, enquanto antes eram os artesãos ou os seus aprendizes quem a fazia. Esses painéis figurativos são rodeados de complicadas molduras: pilastras, colunas, cordões, borlas, conchas, frutos, anjinhos, vasos, enrolamentos, etc. Por vezes os painéis (chamados silhares quando vão até meio da parede) são recortados em cima, numa preocupação de ocultar as linhas direitas tão ao gosto do Barroco e do Rocócó.

Painel do Milagre da mula, Capela-mor

Durante uma pregação, um homem levantou-se e fez um desafio a António: acreditaria na presença real de Cristo no Sacramento, se a sua mula se ajoelhasse perante a custódia com a Eucaristia. A mula sem comer havia 3 dias, recusou a aveia que o dono lhe oferecia, e ajoelhou-se perante o Santíssimo Sacramento, o homem convenceu-se e converteu-se.

Painel de azulejo "Albarrada" (cesto com flores), na parede da nave e silhar de figura avulsa de tipo "estrelinha", com flores e diversos barcos (elementos alusivos ao local) e com estrelinhas aos cantos, na parede sob o coro.


18.5.06

ARTES DECORATIVAS – III

AZULEJARIA
Armanda Prioste, Mariana Aguiar e Sara Ferreira


Padronagem "massaroca", Igreja do Vimeiro

Azulejo é uma palavra derivada do termo árabe “al zulaycha” ou “zuléija”que significa «pequena pedra lisa polida». Era utilizada para designar os mosaicos romano – bizantinos do Próximo Oriente e do Norte de África, onde eram reproduzidos em cerâmica esmaltada, nas chamadas técnicas mudéjares. Foram artistas islâmicos oriundos do Norte de África que introduziram essas técnicas em determinados centros de produção ibéricos como Málaga, Sevilha (Triana), Valência (Manises, Paterna) e Talavera de la Reina.

O azulejo surgiu em Portugal no século XV e até meados do século XVI a sua origem é sobretudo espanhola. A partir dos finais do século XVI, na sequência das importações dos azulejos, começaram-se a fabricar em Portugal os azulejos de uma só cor, azuis ou verdes, alternados com branco. A técnica utilizada é a da “majólica” – pintura sobre a superfície lisa do azulejo – e é nesta técnica que se desenvolve a fabricação dos azulejos de padrão do século XVII (por “padrão” considera-se um conjunto mínimo de azulejos que permita a leitura de um esquema compositivo). Quanto à cor, o início do século XVII deu-nos azulejos policromos, tendo-se no final do mesmo século adoptado o azul e branco.

Tanto na arquitectura religiosa como na civil, o azulejo português respondia às aspirações dos artistas - o de valorização dos espaços, dando-lhes um cunho de monumentalidade. De colocação fácil e rápida, acessível economicamente, o azulejo foi considerado funcional e plasticamente um material de revestimento quase imprescindível, sendo ainda hoje, uma das mais importantes artes decorativas portuguesas.

Revestimento de tapete com padrões florais, Capela das Matas

(continua no próximo post)

17.5.06

Símbolo do nosso Clube


A escolha da Igreja de Santa Maria do Castelo para símbolo do nosso clube justifica-se não só pelo seu valor artístico – é um edifício gótico de uma extraordinária beleza, como também pela História que encerra.
Com efeito, até ao século XX as povoações a sul do concelho pertenciam à freguesia de Santa Maria da Lourinhã, exceptuando a do Vimeiro que existe pelo menos desde o princípio do século XVII. Era em torno da igreja matriz que se desenrolava os momentos mais significativos da vida das populações. A ela acorriam para baptizar os filhos, para celebrar o matrimónio e as exéquias, para o cumprimento da obrigação anual de comungar e confessar-se e para as celebrações litúrgicas.
Para além destas manifestações de carácter espiritual, a igreja era também um dos centros de exploração económica da região, através das propriedades doadas pelos fiéis para obterem benefícios pós-mortem. Aqui vinham anualmente os camponeses que trabalhavam essas terras pagar as respectivas rendas, assim como todos os paroquianos a pagar o dízimo, que era obrigatório.
Ainda para se ter uma ideia melhor da proximidade da igreja em relação às pessoas, a palavra freguesia, sinónimo de paróquia, significava o conjunto dos fregueses de uma igreja e, era em termos da administração da Igreja a unidade base, enquanto na administração civil a unidade base era o concelho (as freguesias civis só foram criadas em 1916).

10.5.06

INSTITUIÇÕES DE ASSISTÊNCIA-I

A Misericórdia da Lourinhã
Ana Patrícia Costa, Marisa Antunes
e Sílvia Antunes

As Misericórdias surgiram em Portugal a partir do ano 1498, por iniciativa da rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã de D. Manuel I. A primeira a ser criada foi a de Lisboa, logo seguida de muitas outras por todo o país. Se as de maior importância se deveram à devoção de reis, rainhas e membros da nobreza e do alto clero, as misericórdias locais eram criadas não só por ordens militares e religiosas, como também pelos municípios e confrarias de artesãos ou por simples particulares.
Criadas à semelhança de outras instituições medievais de assistência, as Misericórdias propunham-se cumprir as 14 obras de misericórdia (7 espirituais e 7 corporais)*.
A Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã foi fundada a 23 de Julho de 1586, por alvará de Filipe II, sendo-lhe anexada a Gafaria (Leprosaria) de Santo André e a capela e hospital/albergaria do Espírito Santo.
É constituída por três construções distintas que, apesar de serem de 3 épocas diferentes, não lhe retiram uma certa harmonia.
No centro do edifício situa-se a igreja, com a data de 1626, inscrita no tímpano. É uma igreja renascentista, constituída por 1 só nave, de tecto de madeira e paredes estucadas.
A nascente, encontra-se a parte mais antiga, que pertenceu à capela do Espírito Santo, com um belo portal manuelino. Do lado poente, temos o Hospital, do século XVIII, cuja porta principal é encimada com o escudo de D. Maria I.

*Eram Instituições Particulares de Solidariedade Social, numa época em que o Estado não assumia qualquer responsabilidade de protecção social, função que aparece apenas a partir da época industrial (século XIX). As 14 obras da Misericórdia eram as espirituais - ensinar os simples, dar bom conselho, consolar os tristes, perdoar a quem errou, sofrer injúrias com paciência e rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos e as corporais – remir os cativos e visitar os presos, curar os enfermos, cobrir os nus, dar de comer aos famintos, dar de beber aos que têm sede, dar pousada aos peregrinos e pobres e enterrar os mortos.
De entre as missões das misericórdias há destacar o pagamento do resgate dos cativos dos mouros que atacavam as populações costeiras, a instituição de dotes para as donzelas pobres conseguirem encontrar marido, as deslocações periódicas às prisões para alimentar os presos, etc.
Os hospitais destas instituições serviam não só para cuidar dos doentes pobres, como também para albergar peregrinos, viajantes e mendigos.

3.5.06

O MORGADIO DE TOLEDO

Capela do Espírito Santo
Patrícia Fontes

Toledo era sede de um Morgadio, instituído por Maria Marques e Inês Viana. Nas propriedades desta família nobre trabalhavam a maioria dos habitantes da zona.
Neste lugar, a família Viana tinha um solar, mas foi vendido e substituído por novas construções. Sobrevive, no entanto, a capela de invocação do Espírito Santo que, em meados do século passado, os descendentes da família doaram à população.
Aqui faleceu, a 25 de Agosto de 1861, o Desembargador Dr. Manuel Joaquim Barbosa Viana, oitavo e último morgado de Toledo.

A capela-mor está separada do corpo da igreja por uma escadaria em pedra e tem um belo retábulo do século XVIII. Originário da capela primitiva, tem duas colunas
salomónicas, pintadas a vermelho e ouro, com flores, que enquadram uma tela representando a
descida do Espírito Santo.

Fotos dos membros do clube de História Local (só falta o Igor), tiradas aquando da visita à capela de Toledo, com a D. Céu que nos recebeu e nos contou histórias interessantes.
A fotógrafa de serviço só aparece na segunda fotografia.
TOPONÍMIA – II

Marquiteira
Marcelo Ferreira


Segundo a tradição oral (reafirmada pelo senhor Leonel Cunha), o nome da localidade teve origem em “Maria Quitéria”, senhora de posses e benemérita, que teria vivido numa casa em frente à igreja.
Diz a lenda que Santa Bárbara apareceu a Maria Quitéria no local onde esta mandou construir a ermida e a partir daí ter-se-ia iniciado o culto a Santa Bárbara.
Contudo os documentos escritos, mais fiáveis, apontam noutra direcção. No século XVI, Marquiteira escrevia-se Margiteira e no início do XVIII Margueteyra (ver Fontes da História da Lourinhã-I, neste blogue). Ora estes topónimos parecem ter a haver com a existência de muitas margas (argila) neste local, onde é tradição ter existido uma olaria. Esses barros não eram só utilizados na confecção de loiça doméstica, pois também próximo da Marquiteira, nos Casais de Santa Bárbara, existiu um forno de telhas.

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO – II

Igreja Velha da Marquiteira

Marcelo Ferreira



A velha Igreja de Santa Bárbara foi recentemente restaurada, depois de muitos anos de abandono e degradação, mercê da iniciativa da comissão de obras da paróquia, de que o senhor Leonel Cunha faz parte (foi ele que gentilmente nos guiou nesta visita).
Não se sabe quando foi construída, mas os mais antigos documentos disponíveis remontam a 1716 e referem-se à confraria de Santa Bárbara, pelo que a igreja já existia nessa época.
Inicialmente de uma só nave, foram-lhe acrescentadas as naves laterais quando a aldeia foi elevada a freguesia, em 1952, na sequência da desanexação da freguesia da Lourinhã. Entretanto, a igreja continuava a ser pequena e procedeu-se à construção de uma nova matriz, que foi inaugurada em 1961. A antiga igreja foi desafectada do culto e transformada num centro recreativo (função que manteve até à década de oitenta), tendo sofrido várias adaptações que descaracterizaram este espaço. Actualmente e após o restauro, serve essencialmente para encontros de jovens.

Curiosidades


»
Na fase de restauro do chão da igreja foram encontrados vários túmulos com ossadas. Isto porque até meados do século XIX, os enterramentos eram feitos dentro das igrejas e nos respectivos adros, ambos considerados solo sagrado. As Leis de Saúde Pública (decretos de 21 de Setembro e 8 de Outubro de 1835), proíbem os enterramentos nesses espaços e, apesar da resistência das populações, acabam por se impor, em parte devido aos inúmeros surtos de cólera verificados ao longo da centúria. Os cemitérios passaram então a ser construídos fora das localidades.

» Quando foi construída a nova igreja da Marquiteira, os paroquianos, segundo o senhor Leonel Cunha, não quiseram colocar pára-raios no telhado, porque isso seria sinal de pouca confiança na padroeira – Santa Bárbara é protectora contra raios e trovões.