27.6.06

TRADIÇÕES POPULARES

As marchas de S. João em Ribamar

Respeitando uma tradição recente, que remonta a 1989, os habitantes de Ribamar (crianças, jovens, adultos e idosos) realizaram um desfile de marchas populares na noite do dia 23 de Junho. Este evento aconteceu na véspera feriado municipal, dedicado ao S. João. Participaram no desfile, que culminou no pavilhão gimno-desportivo, três grupos com centenas de figurantes.



Marcha - Ribamar Centro
Tema: "O dia da espiga"


Refrão:
"Cá vai a Marcha
que o povo gosta de ver
A cantar bate palmas atrás dela
Diz lá do alto a velha lua prateada

Ribamar mais parece uma aguarela
Enquanto passa
a sorrir faz um convite
Vem aí não fique o teu pé no chão
E quando canta toda a gente contagia
Ela traz Ribamar no coração."



Marcha: Ribamar Sul
Tema: Oceanos


Refrão:
"Ó Zé cá estão,
utentes das nossas Praias
Que no Verão vêm do Norte e do Sul
P'lo S. João deixa sempre a Praia
limpa
Porque a malta que aí vem,
prefere a bandeira azul
Ó Zé vê lá não estragues o Oceano
Nós precidamos sempre do mar
para viver
ó Zé vê bem, poluir é um engano
E com o mar poluído,
não há peixe pra ninguém."


Marcha: Ribamar Idosos
Tema: Valores de um Povo

Refrão:
"Marcha, salta para a rua
o teu povo alegre
muito tem para recordar
Danças, e de que maneira
Com os seus balõezinhos
põe as ruas a brilhar
Venham todos recordar
Esta gente boa, que lutou por Ribamar
Cantem com muita alegria
E o povo atrás dela
também quer marchar."

Para além de um bonito espectáculo, foi interessante vermos antigos, actuais e futuros alunos a desfilarem com muita alegria. E, não nos podemos esquecer da nossa marchante-mor (do nosso clube) - a D. Arménia.

Lurdes Neto e Maria dos Anjos

23.6.06

FINALMENTE DE FÉRIAS!

Mensagem para os meus alunos do 9º ano

Eu bem vi a vossa alegria à s
aída do exame de Matemática! Sensação do dever cumprido ou de estar finalmente de férias? Esperemos que as duas coisas!

Conforme prometi aqui fica a minha mensagem, feita a partir e a pretexto do filme a “Lista de Schindler”, que tivemos oportunidade de ver nas últimas aulas de História. Agradeço os comentários que fizeram aqui no blogue, os quais foram muito pertinentes - “imagens chocantes”, “horror e crueldade de uma época” “desumanidade”, mas também a esperança no acto heróico de alguém que arriscou a sua segurança e o seu bem estar, ao não alinhar com o comportamento dominante. É este um dos objectivos da História – ela é a memória da Humanidade, a nossa memória e através dela nós podemos conhecer os percursos que os que nos antecederam fizeram, para assim, mais esclarecidamente, podermos abrir caminhos com vista a um futuro colectivo melhor (infelizmente aquelas imagens continuam actuais).
Nós, seres humanos, como seres inteligentes que somos, temos a liberdade de escolher, e tanto melhor o podemos fazer quanto mais informados e esclarecidos formos (uma pessoa ignorante não é livre). E, ao longo da nossa vida, todos nós temos de fazer as nossas escolhas. Desejo que cada um de vós, quando tiver de o fazer (esperemos que nunca em situações limite como a do filme), o faça de modo a respeitar a sua dignidade e a dos outros – estarmos de bem com a nossa consciência é um valor fundamental.

Mas a História não são só desgraças! Procurei também sensibilizá-los um pouco para aquilo que de belo os nossos antepassados criaram (parece que estou a ouvir o Cristiano a dizer “stora eu não gosto de pintura!”). Sabem, eu descobri a arte mais ou menos pela vossa idade e tive pena de não ter aprendido a gostar mais cedo. Sim, porque é preciso aprender a gostar.
A arte nas suas diferentes formas de expressão (literatura, música, artes plásticas, etc.) é o testemunho daquilo que é mais intrinsecamente humano – a expressão de emoções, da criatividade, da procura do belo... (sabem, nós também podemos criar “beleza”, na forma como nos relacionamos com os outros).

Gostei de vos ter conhecido e desejo que a vossa vida escolar e/ou profissional seja bem sucedida (não se esqueçam que agora é preciso um estudo mais regular e um maior empenho). Quanto à vossa vida pessoal e social, que encontrem o melhor caminho para vós e para aqueles que vos rodeiam -
sejam pessoas activas, participativas e nunca percam a alegria de viver e a irreverência que caracterizam a juventude.

Mantenham o contacto connosco, já sabem onde nos podem encontrar (e já agora continuem a consultar este blogue e os outros da escola e façam comentários).

Boas Férias!
Maria dos Anjos Luís

9.6.06

TRADIÇÕES RELIGIOSAS/POPULARES

Quinta-Feira da Ascensão ou Dia da Espiga
Arménia Azevedo


No dia 25 de Maio fomos à espiga, revivendo uma tradição muito antiga.
Esta tradição popular acontece quarenta dias depois da Páscoa, no dia em que, para os cristãos, se deu a Ascensão de Nosso Senhor ao Céu, depois de várias aparições aos apóstolos. A solenidade deste dia, fez com que até a um passado recente fosse feriado nacional (foi no Pontificado de Paulo VI, que a Igreja assinou com o Estado Português a abolição deste e de outros feriados).

Nos meus tempos de criança era um dia tão respeitado pelos nossos pais, que nos diziam que nem os passarinhos iam aos ninhos, nem as pessoas podiam dormir a sesta. Era também o dia em que as moças que namoravam tinham que contar às mães as “verdades” sobre o seu namoro.

De facto, quando a Quinta-Feira da Ascensão era dia santo de guarda, as pessoas não podiam trabalhar e como era a época das searas estarem maduras, saía-se para os campos em grupos para conviver e apanhar a espiga. A simbologia que está associada aos ramos é simultaneamente profana e religiosa: a espiga de trigo representa o pão, mas também o corpo de Cristo, alimento do espírito, o ramo de oliveira a paz, mas também a luz (o azeite que ilumina o Santíssimo Sacramento), as flores nos campos de trigo – o amor, a alegria e a beleza da natureza (da Criação).

4.6.06

A LISTA DE SCHINDLER

"Quem salva uma Vida, salva o Mundo Inteiro"
Talmude
As turmas do 9º ano têm estado a ver, nas aulas de História, o filme "A Lista de Schindler", um documento fundamental sobre o Holocausto dos judeus, principais vítimas do estado nazi.
Embora este blogue seja dedicado à História Local, a História da Humanidade é também a nossa História. Vamos então lançar o debate:
"O que é que mais te impressionou e/ou sensibilizou ao veres este filme?"
Prof.ª Maria dos Anjos

25.5.06

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO - III
O Forte de Paimogo

Quando fomos visitar o Forte de Paimogo (18 de Maio) ficámos agradavelmente surpreendidos com as obras de recuperação em curso. Iniciada no princípio deste mês, o prazo de execução da obra é de 240 dias e o seu custo está orçamentado em 119.962,50 Euros. O projecto é financiado pela Câmara Municipal da Lourinhã.
Através de um protocolo, a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais cedeu o imóvel à Câmara por um período de 25 anos. Depois da fase de recuperação da estrutura do forte, está previsto uma redefinição dos espaços para fins culturais (o forte está inserido na rota dos dinossauros), com sala de exposições, galeria e sala de leitura e ainda, uma cafetaria e uma esplanada.
A professora Lurdes Neto sugeriu que falássemos com os operários para lhes perguntar quais os materiais utilizados no restauro e eles responderam que estão a usar os materiais originais - calcário, areia branca, cal hidratada e saibro. Os processos de execução são os tradicionais. E acrescentaram que são uma empresa de Lisboa, que trabalha nas obras do Estado e por isso estão habituados a obras de restauro de edifícios históricos.
O aproveitamento dos monumentos para fins turísticos e culturais são uma boa forma de travar uma inevitável ruína. Desejamos que o projecto de recuperação e requalificação do Forte de Paimogo seja bem sucedido!

A beleza da nossa costa vista a partir dos terraços do forte do rés-do-chão e do 1º andar (lado sul).

SISTEMAS DE VIGILÂNCIA E DEFESA DA COSTA

O Forte de Paimogo
David Serra e Igor Alexandre


O Forte de Nossa Senhora dos Anjos de Paimogo foi construído em 1674, durante o reinado de D. Afonso VI (na regência de D.Pedro), para impedir o desembarque de tropas inimigas na praia, por esta ser de águas calmas e de fácil acesso a terra firme.
Estava integrado na segunda linha defensiva da costa, que ia de Peniche até à barra do Tejo e que foi construída no contexto das guerras da Restauração da Independência contra os espanhóis. Com efeito a maioria das fortificações existentes entre o cabo da Roca e Peniche foram construídas sob o impulso da coroa Portuguesa, após 1640 - os Fortes de Nossa Senhora da Consolação (1641), de Peniche (1641-1645), de Nossa Senhora da Graça da Vitória, no Cabo Carvoeira e de Nossa Senhora da Luz em Peniche de Cima (depois de 1642), de Santa Susana (1650), de S. João Baptista nas Berlengas (1654-1678), de Nossa Senhora da Graça de Porto Novo (1662), de Nossa Senhora da Boa Viagem ou da Natividade da Ericeira (1670), etc.
Estas fortalezas serviam também para defender as populações do litoral dos ataques da pirataria mourisca que assolava frequentemente a nossa costa.
Logo de início este forte tinha seis peças de artilharia, um cabo que o comandava, seis soldados e seis artilheiros. Em 1735 nele viviam 16 soldados e tinha 8 peças de artilharia.
Em 1796 o Forte de Paimogo encontrava-se em estado de abandono. Um relatório feito por o General Engenheiro José Matias de Oliveira Rego dizia que o forte se encontrava degradado, e a artilharia encontrava-se apodrecida.
Em 1804, a guarnição era composta por um Cabo, cinco artilheiros e cinco fuzileiros. Estes eram os homens que estavam no Forte a 20 de Agosto de 1808 aquando do desembarque dos soldados ingleses na praia da Areia Branca (1,5Km a sul do forte) e que combateram, no dia seguinte, na Batalha do Vimeiro.
Com o fim da Guerra Civil (1830-32) entre Liberais e Absolutistas o forte de Paimogo termina a sua missão como fortificação militar marítima. Este abandono deu início à degradação do edifício, que foi classificado de imóvel de interesse público em 1957. Actualmente estão a decorrer obras recuperação.

(Estas fotografias foram tiradas antes das obras de recuperação em curso. É visível o estado arruinado do imóvel)

19.5.06

ARTES DECORATIVAS – IV

AZULEJARIA da Igreja do Convento
de Santo António da Lourinhã
Armanda Prioste, Mariana Aguiar e Sara Ferreira

Painel da Pregação aos Peixes, Capela-mor

Na cidade de Rimini, em Itália, as pessoas mantinham-se indiferentes e até hostis à pregação de António. Ele, deixando a cidade, junto da foz do rio Marecchia, começou a chamar: “Vinde vós, peixes, ouvir a palavra de Deus” e deu-se o milagre, os peixes juntaram-se aos milhares para o ouvir. Curiosas, as pessoas começaram por se aproximar e, depois, maravilhadas e entusiasmadas acolheram a sua palavra.
Encimado por uma cruz com uma flor, este painel é muito interessante porque apresenta Santo António a pregar a peixes que apresentam cabeças monstruosas de cães, de porco, de pato …

Desde o final do século XVII até meados do século VIII a pintura em azulejo fez-se exclusivamente com azul sobre branco: foi a moda do azul e branco. Os estudiosos apontam como causa principal a influência da porcelana chinesa, que tinha sido dada a conhecer pelos portugueses à Europa já desde os princípios do século XVI. Mas é só por volta de 1650 que a moda do azul e branco na azulejaria se impõe. Azul e branco passaram a ser sinal de bom gosto durante cerca de 60 anos.
Nos painéis de azulejo aparecem agora “cenas”, tal qual como nos quadros. É que a pintura dos azulejos passou a ser confiada a mestres pintores, enquanto antes eram os artesãos ou os seus aprendizes quem a fazia. Esses painéis figurativos são rodeados de complicadas molduras: pilastras, colunas, cordões, borlas, conchas, frutos, anjinhos, vasos, enrolamentos, etc. Por vezes os painéis (chamados silhares quando vão até meio da parede) são recortados em cima, numa preocupação de ocultar as linhas direitas tão ao gosto do Barroco e do Rocócó.

Painel do Milagre da mula, Capela-mor

Durante uma pregação, um homem levantou-se e fez um desafio a António: acreditaria na presença real de Cristo no Sacramento, se a sua mula se ajoelhasse perante a custódia com a Eucaristia. A mula sem comer havia 3 dias, recusou a aveia que o dono lhe oferecia, e ajoelhou-se perante o Santíssimo Sacramento, o homem convenceu-se e converteu-se.

Painel de azulejo "Albarrada" (cesto com flores), na parede da nave e silhar de figura avulsa de tipo "estrelinha", com flores e diversos barcos (elementos alusivos ao local) e com estrelinhas aos cantos, na parede sob o coro.


18.5.06

ARTES DECORATIVAS – III

AZULEJARIA
Armanda Prioste, Mariana Aguiar e Sara Ferreira


Padronagem "massaroca", Igreja do Vimeiro

Azulejo é uma palavra derivada do termo árabe “al zulaycha” ou “zuléija”que significa «pequena pedra lisa polida». Era utilizada para designar os mosaicos romano – bizantinos do Próximo Oriente e do Norte de África, onde eram reproduzidos em cerâmica esmaltada, nas chamadas técnicas mudéjares. Foram artistas islâmicos oriundos do Norte de África que introduziram essas técnicas em determinados centros de produção ibéricos como Málaga, Sevilha (Triana), Valência (Manises, Paterna) e Talavera de la Reina.

O azulejo surgiu em Portugal no século XV e até meados do século XVI a sua origem é sobretudo espanhola. A partir dos finais do século XVI, na sequência das importações dos azulejos, começaram-se a fabricar em Portugal os azulejos de uma só cor, azuis ou verdes, alternados com branco. A técnica utilizada é a da “majólica” – pintura sobre a superfície lisa do azulejo – e é nesta técnica que se desenvolve a fabricação dos azulejos de padrão do século XVII (por “padrão” considera-se um conjunto mínimo de azulejos que permita a leitura de um esquema compositivo). Quanto à cor, o início do século XVII deu-nos azulejos policromos, tendo-se no final do mesmo século adoptado o azul e branco.

Tanto na arquitectura religiosa como na civil, o azulejo português respondia às aspirações dos artistas - o de valorização dos espaços, dando-lhes um cunho de monumentalidade. De colocação fácil e rápida, acessível economicamente, o azulejo foi considerado funcional e plasticamente um material de revestimento quase imprescindível, sendo ainda hoje, uma das mais importantes artes decorativas portuguesas.

Revestimento de tapete com padrões florais, Capela das Matas

(continua no próximo post)

17.5.06

Símbolo do nosso Clube


A escolha da Igreja de Santa Maria do Castelo para símbolo do nosso clube justifica-se não só pelo seu valor artístico – é um edifício gótico de uma extraordinária beleza, como também pela História que encerra.
Com efeito, até ao século XX as povoações a sul do concelho pertenciam à freguesia de Santa Maria da Lourinhã, exceptuando a do Vimeiro que existe pelo menos desde o princípio do século XVII. Era em torno da igreja matriz que se desenrolava os momentos mais significativos da vida das populações. A ela acorriam para baptizar os filhos, para celebrar o matrimónio e as exéquias, para o cumprimento da obrigação anual de comungar e confessar-se e para as celebrações litúrgicas.
Para além destas manifestações de carácter espiritual, a igreja era também um dos centros de exploração económica da região, através das propriedades doadas pelos fiéis para obterem benefícios pós-mortem. Aqui vinham anualmente os camponeses que trabalhavam essas terras pagar as respectivas rendas, assim como todos os paroquianos a pagar o dízimo, que era obrigatório.
Ainda para se ter uma ideia melhor da proximidade da igreja em relação às pessoas, a palavra freguesia, sinónimo de paróquia, significava o conjunto dos fregueses de uma igreja e, era em termos da administração da Igreja a unidade base, enquanto na administração civil a unidade base era o concelho (as freguesias civis só foram criadas em 1916).

10.5.06

INSTITUIÇÕES DE ASSISTÊNCIA-I

A Misericórdia da Lourinhã
Ana Patrícia Costa, Marisa Antunes
e Sílvia Antunes

As Misericórdias surgiram em Portugal a partir do ano 1498, por iniciativa da rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã de D. Manuel I. A primeira a ser criada foi a de Lisboa, logo seguida de muitas outras por todo o país. Se as de maior importância se deveram à devoção de reis, rainhas e membros da nobreza e do alto clero, as misericórdias locais eram criadas não só por ordens militares e religiosas, como também pelos municípios e confrarias de artesãos ou por simples particulares.
Criadas à semelhança de outras instituições medievais de assistência, as Misericórdias propunham-se cumprir as 14 obras de misericórdia (7 espirituais e 7 corporais)*.
A Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã foi fundada a 23 de Julho de 1586, por alvará de Filipe II, sendo-lhe anexada a Gafaria (Leprosaria) de Santo André e a capela e hospital/albergaria do Espírito Santo.
É constituída por três construções distintas que, apesar de serem de 3 épocas diferentes, não lhe retiram uma certa harmonia.
No centro do edifício situa-se a igreja, com a data de 1626, inscrita no tímpano. É uma igreja renascentista, constituída por 1 só nave, de tecto de madeira e paredes estucadas.
A nascente, encontra-se a parte mais antiga, que pertenceu à capela do Espírito Santo, com um belo portal manuelino. Do lado poente, temos o Hospital, do século XVIII, cuja porta principal é encimada com o escudo de D. Maria I.

*Eram Instituições Particulares de Solidariedade Social, numa época em que o Estado não assumia qualquer responsabilidade de protecção social, função que aparece apenas a partir da época industrial (século XIX). As 14 obras da Misericórdia eram as espirituais - ensinar os simples, dar bom conselho, consolar os tristes, perdoar a quem errou, sofrer injúrias com paciência e rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos e as corporais – remir os cativos e visitar os presos, curar os enfermos, cobrir os nus, dar de comer aos famintos, dar de beber aos que têm sede, dar pousada aos peregrinos e pobres e enterrar os mortos.
De entre as missões das misericórdias há destacar o pagamento do resgate dos cativos dos mouros que atacavam as populações costeiras, a instituição de dotes para as donzelas pobres conseguirem encontrar marido, as deslocações periódicas às prisões para alimentar os presos, etc.
Os hospitais destas instituições serviam não só para cuidar dos doentes pobres, como também para albergar peregrinos, viajantes e mendigos.

3.5.06

O MORGADIO DE TOLEDO

Capela do Espírito Santo
Patrícia Fontes

Toledo era sede de um Morgadio, instituído por Maria Marques e Inês Viana. Nas propriedades desta família nobre trabalhavam a maioria dos habitantes da zona.
Neste lugar, a família Viana tinha um solar, mas foi vendido e substituído por novas construções. Sobrevive, no entanto, a capela de invocação do Espírito Santo que, em meados do século passado, os descendentes da família doaram à população.
Aqui faleceu, a 25 de Agosto de 1861, o Desembargador Dr. Manuel Joaquim Barbosa Viana, oitavo e último morgado de Toledo.

A capela-mor está separada do corpo da igreja por uma escadaria em pedra e tem um belo retábulo do século XVIII. Originário da capela primitiva, tem duas colunas
salomónicas, pintadas a vermelho e ouro, com flores, que enquadram uma tela representando a
descida do Espírito Santo.

Fotos dos membros do clube de História Local (só falta o Igor), tiradas aquando da visita à capela de Toledo, com a D. Céu que nos recebeu e nos contou histórias interessantes.
A fotógrafa de serviço só aparece na segunda fotografia.
TOPONÍMIA – II

Marquiteira
Marcelo Ferreira


Segundo a tradição oral (reafirmada pelo senhor Leonel Cunha), o nome da localidade teve origem em “Maria Quitéria”, senhora de posses e benemérita, que teria vivido numa casa em frente à igreja.
Diz a lenda que Santa Bárbara apareceu a Maria Quitéria no local onde esta mandou construir a ermida e a partir daí ter-se-ia iniciado o culto a Santa Bárbara.
Contudo os documentos escritos, mais fiáveis, apontam noutra direcção. No século XVI, Marquiteira escrevia-se Margiteira e no início do XVIII Margueteyra (ver Fontes da História da Lourinhã-I, neste blogue). Ora estes topónimos parecem ter a haver com a existência de muitas margas (argila) neste local, onde é tradição ter existido uma olaria. Esses barros não eram só utilizados na confecção de loiça doméstica, pois também próximo da Marquiteira, nos Casais de Santa Bárbara, existiu um forno de telhas.

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO – II

Igreja Velha da Marquiteira

Marcelo Ferreira



A velha Igreja de Santa Bárbara foi recentemente restaurada, depois de muitos anos de abandono e degradação, mercê da iniciativa da comissão de obras da paróquia, de que o senhor Leonel Cunha faz parte (foi ele que gentilmente nos guiou nesta visita).
Não se sabe quando foi construída, mas os mais antigos documentos disponíveis remontam a 1716 e referem-se à confraria de Santa Bárbara, pelo que a igreja já existia nessa época.
Inicialmente de uma só nave, foram-lhe acrescentadas as naves laterais quando a aldeia foi elevada a freguesia, em 1952, na sequência da desanexação da freguesia da Lourinhã. Entretanto, a igreja continuava a ser pequena e procedeu-se à construção de uma nova matriz, que foi inaugurada em 1961. A antiga igreja foi desafectada do culto e transformada num centro recreativo (função que manteve até à década de oitenta), tendo sofrido várias adaptações que descaracterizaram este espaço. Actualmente e após o restauro, serve essencialmente para encontros de jovens.

Curiosidades


»
Na fase de restauro do chão da igreja foram encontrados vários túmulos com ossadas. Isto porque até meados do século XIX, os enterramentos eram feitos dentro das igrejas e nos respectivos adros, ambos considerados solo sagrado. As Leis de Saúde Pública (decretos de 21 de Setembro e 8 de Outubro de 1835), proíbem os enterramentos nesses espaços e, apesar da resistência das populações, acabam por se impor, em parte devido aos inúmeros surtos de cólera verificados ao longo da centúria. Os cemitérios passaram então a ser construídos fora das localidades.

» Quando foi construída a nova igreja da Marquiteira, os paroquianos, segundo o senhor Leonel Cunha, não quiseram colocar pára-raios no telhado, porque isso seria sinal de pouca confiança na padroeira – Santa Bárbara é protectora contra raios e trovões.

27.4.06

ARTES DECORATIVAS - II

PINTURA A FRESCO
Igor Alexandre

Frescos dos Quatro Evangelistas - Igreja Velha da Marquiteira




















Fresco é uma técnica de pintura mural, na qual são aplicados pigmentos (tintas de água) sobre argamassa húmida.
Alguns dos mais antigos frescos (c.1750-1400 a. C.) foram encontados em Cnossos, na ilha de Creta, dos períodos minóico e micénico da civilização do Egeu (arte grega pré-clássica). Esses frescos encontram-se hoje no Museu Heráclion (Creta).
Esta técnica atingiu a sua maior expressão em Itália, entre os séculos XIII e XVII. Giotto, Masaccio, Miguel Ângelo e muitos outros artistas italianos usaram-a, tal como os muralistas Orozco e Rivera, já no século XX.

NOTA: Simbologia dos quatro Evangelistas: São Mateus é simbolizado pelo anjo com rosto de homem, porque o seu Evangelho se preocupa em comprovar a natureza humana de Cristo, enquanto São João (a águia) se preocupa em comprovar a natureza divina de Jesus. São Marcos é representado pelo leão, porque começa o seu Evangelho falando da pregação de São João Baptista no deserto da Judeia. Ora, o leão vivia no deserto e a pregação de João foi como um rugido de leão, querendo mostrar Cristo como rei (o leão é o rei dos animais). São Lucas tem em vista demonstrar o carácter sacerdotal de Cristo. Daí ter com símbolo o boi, animal sacrificado no Templo.

25.4.06

TRADIÇÕES RELIGIOSAS – II

DEVOÇÃO A SANTA BÁRBARA
Arménia Azevedo

Sou devota de Santa Bárbara porque nos meus tempos de criança, quando se formavam grandes trovoadas eu tinha muito medo, principalmente porque o meu pai e outros familiares eram pescadores e estavam no mar. Se a trovoada em terra pode ser perigosa, imaginem no mar, associada a ventos e tempestades. Daí a muita devoção que existe à santa nestes lugares à beira mar.
Assim quando havia trovoada, nós acendíamos uma vela e rezávamos uma oração, que a minha avó me ensinou:

«Bárbara Virgem foi ao rumo
Jesus Cristo encontrou
Onde vais Bárbara?
Vou espalhar esta trovoada
que aqui se juntou.
Então espalha-a bem espalhadinha
onde não haja molhinhos de lenha,
tranquinhos de oliveira,
nem bafo de alma cristã.»

Era no mês de Maio que havia sempre mais trovoada, então eu, a minha mãe e os meus irmãos acendíamos as velas a Santa Bárbara e rezávamos.


NOTA: A minha vizinha, D. Domitília Cordeiro (A dos Cunhados), informou-me que havia também, noutras freguesias da região, muitos associados da Irmandade de Santa Bárbara da Marquiteira. Por volta do dia 4 de Dezembro, festa da padroeira, os mordomos da irmandade percorriam as terras em redor para cobrar as quotas e entregavam duas velas a cada associado. Sempre que havia trovoada, os devotos acendiam-nas e rezavam a oração. Há várias versões desta oração, a daqui é a seguinte: «Santa Bárbara se vestiu/ Santa Bárbara se calçou/Seu caminho andou/Nossa Senhora a encontrou/ Bárbara onde vais?/ Vou espalhar a trovoada/ Espalha-a bem para bem longe/ onde não haja pão nem vinho, nem tranquinho de oliveira.» (Maria dos Anjos).


23.4.06

LENDAS - II

SANTA BÁRBARA, padroeira da Marquiteira
Igor Alexandre

Pintura alusiva à lenda de Santa Bárbara
Igreja Velha da Marquiteira

Santa Bárbara viveu e sofreu durante o reinado do imperador Maximiano, entre o ano 305 e 311.
Seu pai, Dióscoro, pessoa rica da cidade fenícia de Heliópolis, era pagão.
Dióscoro sempre protegeu a sua filha (ela era muito bela), colocando-a numa torre fechada, longe do povo.
Mas, Bárbara cresceu e começou a querer conhecer pessoas novas e fazer amigos, então saiu da torre e percorreu à cidade.
Enquanto Bárbara andava pela cidade fez alguns amigos, mas eles eram cristãos. Enquanto Bárbara começava a compreender melhor a religião dos seus amigos, converte-se ao cristianismo e é baptizada às escondidas de seu pai, Dióscoro.
Quando Dióscoro descobriu ficou furioso e deu-lhe uma terrível surra, metendo-a novamente em cativeiro e em jejum.
Vendo que não conseguia vencer a fé da filha, levou-a ao governador da cidade e juntos voltaram a surrá-la e chicoteá-la, salgando depois as suas feridas. Nessa noite Bárbara rezou com muita fé a Deus e os seus ferimentos curaram-se.
Então sofreu tormentos mais cruéis ainda, tendo sido torturada diante da multidão. E como se não bastasse a humilhação, a fiel seguidora de Cristo foi decapitada, pelo próprio pai.
A fúria de Deus não tardou a punir o pai e os executores de Bárbara, que logo em seguida foram fulminados por raios e relâmpagos.

Daí Santa Bárbara ser a protectora contra raios e relâmpagos.
ARTES DECORATIVAS - I

TALHA DOURADA
David Serra
Altar-mor
Igreja de S. Miguel
Vimeiro

A Talha Dourada é uma técnica de escultura, em que a madeira (principalmente carvalho e castanho) é talhada e depois coberta por uma fina película de ouro.

Já existia no tempo dos Egípcios e Gregos. Também podemos encontrá-la em templos budistas e confucionistas, assim como em mesquitas muçulmanas.
Na Europa desenvolveu-se principalmente durante o Barroco, nos séculos XVII e XVIII.

Usada principalmente no interior de igrejas e capelas, em altares e retábulos, para responder a uma encomenda de talha dourada era necessário o trabalho de vários artesãos: escultores, entalhadores e douradores. Todos tinham que cumprir as ordens do mestre, que era o responsável perante o cliente, pois o contrato, muitas vezes assinado no tabelião (notário), tinha que ser cumprido rigorosamente.

Em Portugal a talha dourada é, como o azulejo, um verdadeiro fenómeno nacional tendo atingido a sua maior importância entre 1690 e 1790. Uma explicação para o grande desenvolvimento da talha dourada em Portugal pode ser a grande quantidade de ouro que nos chegava do Brasil durante o reinado de D. João V.

20.4.06

TOPONÍMIA - I

Valter Guerreiro, de Pregança

Segundo o sr. Rui Cipriano «A toponímia da povoação de Pregança leva-nos a crer que esta região já deveria ter sido ocupada pelo homem desde tempos primitivos. Esta povoação acha-se edificada em local alto e o seu nome poderá ter por origem a palavra de raiz "Brigança", que significa "sítio alto" e se transformou com o decorrer dos anos "Bregança" e depois "Pregança"»*.

Vejam como se designava o lugar de Pregança há 300 anos (Fontes da História da Lourinhã, 2ª página, neste blogue)!

* CIPRIANO, Rui Marques, Vamos falar da Lourinhã, Lourinhã, Câmara Municipal da Lourinhã, [2001], p. 265.

" Para a Cultura guardar é preciso Preservar!"

Ana Patrícia Costa, Marisa Antunes e Sílvia Antunes


O estado de degradação em que se encontra esta tela, da capela oratório situada no muro da Quinta de Santa Catarina na vila da Lourinhã, entristece-nos ( a da R. João Luís de Moura ainda está pior).

Uma forma também de assinalar a Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que se comemorou há dois dias, é chamar a atenção das autoridades competentes para a necessidade de restaurar e conservar o nosso património.

17.4.06


No dia 18 de Abril comemora-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

Este ano, O Instituto Português do Património Arquitectónico celebra esta data com o tema Jovens de Hoje - Património de Amanhã, uma forma de sensibilizar os jovens para a importância da defesa e preservação do nosso património.

Nós, membros do Clube de História Local, estamos no bom caminho ao darmos o nosso contributo para a divulgação do património histórico-cultural do concelho da Lourinhã.

FONTES DA HISTÓRIA DA LOURINHÃ -I




















COSTA, António Carvalho da, «Livro Segundo: da Província da Estremadura», Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal..., Tomo III, Lisboa, off. de Valentim da Costa Deslandes, 1706-1712, pp. 36-37.

16.4.06

O Blogue do Miguel

Afinal o meu sobrinho Miguel, frequentador assíduo do nosso blogue, também tinha um e estava muito caladinho. Ainda por cima é um blogue de História! É sobre a história da sua família do lado materno e o endereço é http://historiadafamiliaquina.blogspot.com . Prometi dar-lhe uma ajuda nas pesquisas.
O Miguel tem onze anos, é aluno do 5º ano do Externato de Penafirme e é um craque em informática.
Decidi fazer um link do nosso blogue para o seu porque acho a ideia de se fazer a história da nossa família muito interessante. Aliás, no início deste clube, eu e a professora Lurdes Neto apresentámos aos alunos diversas propostas e esta era uma delas. Os alunos preferiram visitar e estudar o património construído, daí que talvez para o próximo ano alguém queira explorar esta vertente da História. Os arquivos paroquiais (a partir de 1911), os registos civis (entre cerca de 1900 a 1910) e a Torre do Tombo para os séculos anteriores (podem remontar até ao século XVI) guardam os registos paroquiais de baptismos, casamentos e óbitos dos nossos antepassados.
Boas pesquisas!
Prof.ª Maria dos Anjos

14.4.06

TRADIÇÕES RELIGIOSAS - I

Sexta Feira Santa



O culto ao Senhor dos Passos e ao Senhor Morto, de fortes tradições nas gentes da Lourinhã, remonta a meados do século XVII ou princípios do século XVIII e teve origem na Igreja da Santa Casa da Misericórdia desta vila.

A tradição centenária do Procissão do Enterro do Senhor, que sai da Igreja da Misericórdia e percorre as ruas da Lourinhã, na Sexta Feira Santa, não se realizou este ano devido à chuva que se fez sentir durante toda a tarde. No entanto, na sexta feira anterior ocorreu a Procissão do Senhor dos Passos, que também se insere nas celebrações que antecedem a Páscoa.
Na época da difusão destes cultos, a Santa Casa da Misericórdia mandou construir várias capelas-oratórios pelas ruas da Lourinhã, relacionadas com os Passos da Paixão de Cristo. Sobreviveram quatro dessas capelas e uma delas encontra-se no largo da antiga Câmara. Têm pinturas em tela, datadas do século XVIII.